Fazia algumas noites que a Lalinha acordava e ia para o meu quarto. No começo achei que fosse manha. Todas as vezes que eu voltava com ela para sua cama, passava um tempo e ela voltava para a minha. Ela chorava, reclamava, e eu, sonada, só pensava no movimento automático de devolvê-la à sua cama. Algumas vezes, extremamente cansada, deixava-a dormir entre mim e meu marido porque eu precisava de uma noite bem dormida.
Numa das noites resolvi perguntar o que acontecia, pergunta que eu devia ter feito desde o início (a pergunta é a coisa mais básica para tentar entender uma situação!). Ela me respondeu que tinha um lobo no seu quarto. Parti para o óbvio, dizendo que lobos não existem nos quartos das crianças, que ela podia dormir. Mas ela voltava a acordar e o ritual se repetia. Para ela o lobo continuava a existir.
Por uma razão que não tem a ver com esta história, alguém comentou comigo sobre o livro Chapeuzinhos Coloridos, de José Roberto Torero e Marcus Aurelius Pimenta. Comprei o livro, li as histórias e, numa das noites, depois de tantas coisas que acontecem com os lobos das histórias das Chapeuzinhos Coloridos (vale muito à pena a leitura), tive uma idéia genial (sim, livros infantis são nossos melhores conselheiros porque usam a linguagem da criança!). Enquanto eu levava a Lalinha de volta para sua cama, disse-lhe: "Vamos falar para o lobo ir embora!". Ela topou e juntas falamos firmes: "Vai lobo, deixa a Lalinha dormir tranquila.".
Precisamos de três noites e o lobo mau partiu de vez do seu quarto - e o livro virou uma de nossas leituras prediletas. Logo mais vamos escrever a história do Lobo Mau da Chapeuzinho Rosa, que os autores deixaram para as crianças criarem...