12 de setembro de 2011

Vale a pena um passeio com as crianças pelo centro de São Paulo

Destino: Mercado Municipal e Estação Catavento
Transporte: carro, metrô e muita sola de sapato!

Saímos de casa felizes. RoRo e Lalinha porque andariam de metrô, linha nova e com baldeação na Sé, a maior estação da cidade. André e eu porque depois de quase 6 anos comeríamos os deliciosos pastel de bacalhau e sanduiche de mortedela.

Sábado de manhã, 10:30, céu nublado. Estação Marechal Deodoro. Muitas escadas rolantes para a Lalinha aprender a "pular". Assento livre na janela. Rostinhos de alegria. Estação da Sé cheia, mas de fácil trânsito. Mãos segurando firme nas mãozinhas. Trecho em pé até a Estação São Bento, lotada como sempre. Olhares atentos a tudo. Tudo é bacana, diferente e novo. Evitamos a saída pela Ladeira Porto Geral, mas ela era inevitável no nosso caminho. Loucura? Sempre achei que sim, mas não neste dia.

Lalinha de cavalinho no ombro do pai e eu grudada no RoRo. Assim descemos a famosa ladeira observando as vitrines de fantasia para o Halloween. Um tanto assustadoras, não quiseram entrar para conhecer aquele mundo de parafernálias que transforma sonhos e realiza desejos. Paramos por instantes para assistir ao "Teatro da Bruxa", apresentação de um boneco medonho em frente a uma das lojas. Um mar de gente. Lalinha vendo tudo de cima. RoRo tampando o nariz para evitar o fedor de urina que exalava do chão.

Um pouco pelas calçadas, um pouco pela rua, chegamos rapidamente na Rua da Cantareira. Fila de carro dobrando quarteirão para tentar entrar no estacionamento do Mercadão. Certeza de que tínhamos feito a escolha certa, mesmo enfrentando a multidão da Rua 25 de Março. RoRo brincava de subir e descer as escadas que encontrava pelo caminho.

Entramos no Mercado pelas bancas que vendem no atacado, parte delas fechadas. Encontramos certa resistência das crianças no começo, que queriam ir direto ao pastel. A ansiedade foi temporariamente contornada com a degustação de um pacotinho de castanhas de lua (caju) compradas em uma das bancas. Por um breve período percorremos alguns corredores, até sermos vencidos pela insistência de quererem o pastel. Era a primeira vez que iriam almoçar pastel!

No pavimento superior mesas lotadas, fila no famoso Hocca. Sentei-me com a Lalinha enquanto RoRo e André enfrentavam a fila do caixa para fazer nosso pedido. Quando veio o tão esperado sanduíche de mortadela com provolone e mostarda (o primeiro "prato" a ser liberado) ficamos admirando o ataque e os olhinhos brilhantes de hummmm. Cada criança ficou com uma metade e nós, para variar, comemos o que sobrou, frio, mas ainda delicioso (afinal, 2 sanduiches + pastel, é muita coisa!). O sanduíche só foi deixado de lado quando o pastel de queijo ficou pronto. A sobremesa foi amêndoas cobertas com chocolate, compradas na segunda parte do tour, cujo ponto alto foram os pés e orelhas de porco expostos nas geladeiras dos açougues.

Saímos de um lugar totalmente democrático, com sotaques e caras de todo o país para outro que evitamos diariamente. Os arredores sujos e cheio de mendigos não impediram a Lalinha de correr atrás das pombas, nem o RoRo de ver o córrego (ou rio?) que passa por ali, mesmo que para isso tenham tido que se infiltrar no meio das trouxas dos moradores de rua. Meu espanto foi grande ao perceber que em todo o trajeto a pé até a Estação Catavento, no Palácio das Indústrias, as crianças encararam a sujeira das calçadas e seus moradores simplesmente como parte do cenário. Não houve em nenhum momento estranheza por parte deles. A estranheza estava em mim, que reagia tentando proteger corporalmente as crianças toda vez que um medingo passava do nosso lado, como se eles fossem uma ameaça (e de fato são, uma ameaça ao nosso mundinho protegido, que mostra o que não queremos ver - em nós mesmos). As crianças estavam certas, eles fazem parte do cenário, não estão nem aí para a gente. Eu experimentava pela primeira vez andar em um local desconhecido, feio e sujo achando uma delícia! Estava realmente divertido andar por um pedaço da cidade que raramente vamos, ou, quando vamos, vamos protegidos pelo carro e nossos escudos emocionais que nos impedem de ver e viver a cidade como ela é.

A Estação Catavento dispensa comentários. As crianças adoram passear lá. É ampla, diversa e tem atrativos para todas as idades - nem que o atrativo seja apertar algum botão!

Rumo de volta para casa, mais uma caminhada até a Estação Dom Pedro do metrô. Lugar ermo, com viadutos e término de calçada que nos obriga a atravessar a rua de um lado a outro. Nem bares abertos há. E as crianças iam alegres porque conheceriam mais um novo metrô, tinham comido pastel e sanduíche no almoço, subido nos trens, brincado com as bolhas de sabão e corrido muito na Estação Catavento. Estávamos exaustos. Metrô lotado e um ataque da Lalinha no chão do vagão. Ela queria apenas uma janela para ver o que tinha lá fora do trem... (Precisamos ainda de muitos outros passeios pela cidade para ela entender que às vezes o metrô está lotado e a única coisa que se vê é a perna das pessoas).

As 7 da noite os dois dormiam gostoso. Dia diferente, cheio de novidade. Dia em que eu fui surpreendida pelo quanto a gente vai nos enchendo de armaduras que nos impedem de ver e viver a cidade (e a vida) como ela. E o que é pior, o quanto armamos nossos filhos fazendo com que eles percam essa coisa gostosa chamada liberdade - que a infância sabe muito bem o que é.

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