Um pouco mais aflita do que o RoRo, liguei para a dentista. Como um palmito podia causar tamanho estrago? Nem passou pela minha cabeça que, com 5 anos e meio, o dente de leite pudesse estar mole. Para mim, dente só caía depois dos sete!
E patife que sou, lá fui eu na dentista para me preparar emocionalmente para a queda do primeiro dente do RoRo (muito mais eu do que ele!). O dente mole não era trauma causado pelo palmito
Exercícios diários para o dente amolecer não foram suficientes para o primeiro dentinho cair naturalmente. O permanente que vinha embaixo rasgou a gengiva apontando feliz da vida atrás do dente que estava com preguiça de amolecer para valer. Resultado, extração na cadeira da dentista. Santa Giselle! Livrei-me do primeiro fio dental amarrado no dente e na maçaneta da porta (até hoje não sei se isso é real ou fantasia, mas que isso acontecia quando eu era criança, acontecia!) ou do lenço de pano, que nem tenho, para com muita força e coragem dar aquele puxão que manchava o lenço branco de vermelho. Pânico de sangue; pânico de anestesia de dentista, que na única vez que meus pais viajaram sozinhos quando éramos crianças, meu irmão teve um problema qualquer no dente e tomou infinitas anestesias que não pegaram. Lembro-me dele chorar e não queria que o RoRo sofresse daquela maneira. Santa Giselle, mais uma vez, que com uma habilidade incrível foi conversando com o RoRo enquanto o anestesiava, que me deixou em dúvida sobre o quanto tudo aquilo era história ou estória. O fato é que nem o RoRo, nem eu, percebemos o dente ser extraído. Logo veio o picolé de uva, o dentinho e o alívio, de ambas as partes (ele também tinha seus temores de como e quando aquele dente ia cair).
Fiquei em dúvida se a Fada do Dente passaria em casa ou não. Com quase 6 anos começo a achar meio sem sentido cultivar as figuras fictícias. Na dúvida, ela não passou. Claro que dois dias depois meu banguelinha queria saber por que a Fada do Dente não tinha passado em casa. Eu tinha a resposta-desculpa: o dente estava guardado no "Livro Porta Dentinhos de Leite" (presente da Santa Giselle no dia seguinte da história do palmito) e uma vez lá, a fada não teria como pegá-lo. Como tudo, a fadinha foi esquecida...
O dentinho vizinho estava começando a ficar mole. Achei que este lance de cair dente era meio efeito dominó - cai o primeiro, dias depois o segundo, o terceiro e por aí vai. Mas não foi bem assim. O vizinho não amoleceu muito, não apareceu dente rasgando a gengiva atrás, desencanei. E quando isso aconteceu, lá começou o vizinho a reclamar a cada mordida em uma comida mais dura, com choro, perguntas e muitos temores que rondaram no capítulo "primeiro dentinho". "E se cair na escola?". A professora guarda, cuida, põe gelinho. E a mãe, pensei, fica livre do segundo! Mas para quê pensar nisto? O debaixo está sossegado no canto dele; o molinho ainda não está pendurado, tem tempo... Antes do Natal não cai. Quem disse?
Fada existe. Ela, quando a gente menos espera, aparece para dizer oi.
Hoje, no meio da correria da criançada em casa (eram cinco crianças), o RoRo vem gritando: "Mamãe, mamãe, mamãe... Meu dente caiu quando eu vesti a camiseta! Eu mordi a camiseta e ele caiu!" Ele estava feliz, radiante com o segundo dentinho na mão, limpíssimo. Olhei a gengiva, mal tinha um ponto vermelho. Mais uma vez escapei! Ufa!
Na hora pensei na Fada daquele dentinho, que hoje faria aniversário e estaria dando risada se estivesse compartilhando a alegria e o entusiasmo da criança que ela mais adorava - não que não adorasse os outros, mas o RoRo era especial para ela, e ela, muito especial para ele. Saudades da tia Tila. Seu último aniversário foi em casa, com as crianças que ela adorava. Meu bolo era capaz de arrancar dente, o pior que já fiz, mas a alegria de estar cercada das crianças foi grande. Foi sua despedida, assim, meio de surpresa, como o dentinho que parece que vai cair mas não cai. Mas quando chega a hora, ninguém segura.
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