Cada vez que nasce filho de uma amiga revivo o nascimento dos meus filhos. Foram momentos muito diferentes, que tiveram em comum apenas uma alegria intensa e indescritível.
O RoRo foi primeiro neto do lado do meu marido e a primeira gravidez e vivência de maternidade pela parte da minha família. As expectativas, não preciso nem dizer, eram enormes. Entre os amigos também fomos um dos primeiros casais a ter filho. Seu nascimento foi transformado numa festa, com comes e bebes no quarto, muita visita (até por orientação do pediatra de que era melhor receber visitas na maternidade do que em casa, o que concordo plenamente, mas sem excessos), flashes de máquinas fotográficas diversas, colos oferecidos e, o que só percebi dias depois, muito barulho para um serzinho que tinha vivido quase nove meses na calmaria. O RoRo chorava não era de cólica, como todos os palpites levavam a crer (por tudo que li, ela só começa depois de mais ou menos um mês de vida), mas pelo estresse de estar em um ambiente tão agitado.
Eu não consegui dar um basta nessa situação de maneira polida porque tinha um lado meu que queria dividir a alegria de seu nascimento, permitindo visitas, conversas e colos, e outro que não suportava mais aquilo mas não sabia como dizer chega! No terceiro e último dia na maternidade pedi para visitas se retirarem e para a maternidade só autorizar visitas com meu aval. No segundo dia em casa, tirei o telefone da tomada e não atendi a uma ligação de celular. Eu não tinha ajuda – só da minha irmã que largou quase tudo para ficar comigo algumas horas no dia e de uma faxineira que vinha no final da tarde dar uma geral na casa (e a licença paternidade do meu marido tinha vencido e ele voltou a chegar em casa só depois das 11 da noite).
Quando falo de ajuda, falo de gente que topa esfregar roupa suja de cocô e sangue, lavar louça e tirar o lixo do banheiro. Encontrar esta ajuda foi difícil (às vezes pedia socorro à minha prima, que também topava qualquer coisa, mas só podia me ajudar nos finais de semana; ou a melhor amiga da minha irmã, que me deu comida na boca enquanto eu amamentava meu pequeno, atrasada, para sua primeira consulta no pediatra). O que tive foram candidatos a dar colo ao bebê que eu queria cuidar e conhecer.
Enlouqueci no meio disso porque eu não soube dizer “quem quer dar colo ao meu filho sou eu; se não topar me ajudar naquilo que preciso, esquecendo do meu filho, melhor me dar um tempo até as coisas se ajustarem” (detalhe: quando o RoRo nasceu nós só tínhamos em casa geladeira, fogão, máquina de lavar roupa, uma TV emprestada e um sofá cama – estávamos aguardando a chegada da mudança que vinha de outro país onde morávamos quando engravidei). Recebíamos visitas por não saber dizer não. Mas elas não eram bem vindas naquela situação (com exceção de algumas amigas que serviram de ombro amigo, quase um penico, para desabafo da angústia que eu vivia). Encontrei um jeito estranho de dizer “não quero ninguém pegando meu filho, eu quero ficar com ele”, não atendendo a nenhum telefonema ou fingindo dormir na poltrona de amamentação desde o toque do interfone até o bater da porta na hora em que meu marido se despedia das visitas. Eu queria curtir sozinha meu filhote, possessiva como uma cadela que ataca ao ver sua cria ameaçada (a ameaça era tirar de mim, mesmo que por alguns instantes). Eu ataquei, mas como não sou cadela, fiz diferente quando a Lalinha nasceu.
A cesária da Lalinha foi planejada e por isso a segunda-feira foi escolhida com o propósito de ter os cinco dias da licença paternidade durante a semana e de não ser fim de semana, favorecendo visitas (como foi com o RoRo, que nasceu numa sexta-feira após o rompimento da bolsa). Só permitimos visitas depois de eu ter estado sozinha com a minha filha e com o meu filho, que pela primeira vez tinha ficado longe de mim. (Quando o RoRo nasceu, cheguei no quarto e tinha um monte de gente da família me esperando. Minha médica tinha pedido para eu não falar muito para não intensificar a formação gases, mas não falar da emoção vivida só era possível se não tivesse ninguém na minha frente).
A estada na maternidade foi ótima, poucas visitas, tempo para eu descansar um pouco e um bebê tranquilo. Quando sabia que receberíamos visitas eu pedia para que a Lalinha fosse para o berçário, evitando sua exposição ao agito. Foi a melhor coisa que fiz.
Viemos para casa com tudo pronto para recebê-la. A bagagem de ser mãe pela segunda vez ajudou muito, além de que, desta vez, tínhamos uma empregada que dormia no emprego e o meu marido 30 dias de férias emendados ao vencimento da licença paternidade. Tínhamos também, mais um filho, que demandava uma atenção quase redobrada à atenção que pedia antes do nascimento da irmã.
Meu marido e a empregada se encarregaram de todos os telefonemas, e ele, de barrar quem quisesse nos visitar. Mais uma vez precisávamos de um tempo para conhecer a princesinha que chegava em nossa casa, para curtir a nova família e eu me reestabelecer do parto. Não cabia ninguém, em momento algum, além de nós quatro.
Marinheira de segunda viagem, tranquilidade inata da minha gatinha, rotina da casa bem estruturada e marido em casa 30 dias, somaram-se, sem dúvida alguma, ao tempo que nos demos para nos organizar enquanto nova família. Não ter tido visitas querendo pegar minha filha no colo (porque nessas horas ninguém lembra que a mãe pariu tem pouco tempo, sente dor, sono e um turbilhão de emoções) foi fundamental para nossa sanidade mental – digo nossa porque se eu não tivesse, ninguém mais na casa teria, seriam vítimas da insanidade.
Hoje, sempre que posso conto minhas duas experiências para quem vai ter bebê ou está muito perto de alguém que terá. Ajudar uma recém-parida é ajudar nas coisas que ela, a mãe, precisa, sem se preocupar com o bebê (sei que o bebê é muito mais agradável e fofo do que a parturiente, mas... se vale minha experiência, quem mais meu filho se apegou foi a tia que levou semanas para pegá-lo no colo pela primeira vez, mas que fazia tudo o que ele precisava ao entorno, especialmente ter uma mãe bem cuidada para que ela pudesse cuidar dele). Seja avós, avôs, tios, primos, amigos íntimos, jamais implore para ver o bebê ou tê-lo no colo. Ele não precisa de ninguém, além da mãe (e do pediatra). A verdade é dura, mas avós, avôs, tios, primos, amigos íntimos, só devem visitar se forem solicitados (e de preferência um de cada vez para não fazer fila querendo pegar o bebê), ou se disponibilizarem para esfregar roupa suja de cocô e sangue, lavar louça, tirar o lixo do banheiro e fazer um gostoso suco para a mãe sedenta de um líquido após a amamentação. Se a mãe esquecer de dizer obrigada, com certeza, a criança, no seu conforto, agradecerá.
3 comentários:
Obrigada pelo seu agradecimento, sei como ninguém que ele é grande e sincero. Obrigada por ter me dado estes sobrinhos lindos e encantadores e por me ter a dado a chance de estar perto de vocês quando precisaram de mim e pude ajudar. Foi inesquecível poder ter estado com você nos seus ultra-sons, ouvido o coraçãozinho do RoRo (pra mim Didico, pra ele também já foi)e depois ele nascendo tão lindo! A Lalinha não pude estar tão junto por causa da Alice e da Dora recém nascidas, mas o que vale é o grande amor que une estas crianças, primos, irmãos e mães!
Pati, espero que muitas mães leiam o que você escreveu! Eu te entendo perfeitamente e vivenciei algumas sensações parecidas. Eu achei tudo muito difícil, no nascimento da Isadora um pouco mais tranquilo, só não foi muito mais tranquilo por causa do problema que tive com a sonda.Outro dia chorei, porque o Arthur perdeu o primeiro dente de leite, como crescem rápido. Temos que curtir os raros momentos, quando estamos com energia para brincar...
Fantastico! adorei o texto! obrigada por compartilhar!
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