23 de março de 2010

Um tempo para mim

O tempo perguntou pro tempo
quanto tempo o tempo tem.
O tempo respondeu pro tempo
que o tempo tem tanto tempo
quanto tempo o tempo tem.

Com a Lalinha na escola, tem sido ótimo fazer qualquer coisa sozinha, sem pressa, sem filho pra carregar no colo, dizer não, amarrar na cadeira do carro, correr porque é hora de comer. Sei que daqui um tempo este tempo não vai mais me ser necessário, mas agora ele é vital. Tem 4 anos que minha vida está no tempo dos meus filhos. Parece incrível, mas até o supermercado mudou de cara. Fazer feira em 40 minutos e não em uma hora e pouco é uma glória. Andar no meu tempo tem sido minha grande conquista e prazer.

E com um pouco mais de tempo, muita gente me pergunta se eu não vou voltar a trabalhar. Minha resposta é não, não chegou a hora. Não tenho vontade ainda. Como eu posso querer trabalhar se estou me reencontrando agora? Trabalhar neste momento é um atropelo, não estou inteira (nem meus filhos!).

Bem que eu gostaria de ser o tempo para ter todo tempo que o tempo tem...

Uso do vaso sanitário

Como foi difícil para o RoRo usar a privada. Primeiro, fazer xixi. O xixi intencional só saía no ralo do chuveiro, mesmo fora da hora do banho. Com muita insistência do pai, a privada virou o alvo do xixi. Mas o cocô... Esse, só na fralda, mesmo depois de tirar a fralda noturna.

Na tentativa de obter sucesso, compramos todos os livros e filmes com o tema, privadinhas, redutor de assento. Valia levar livrinho para ler no banheiro, contar história, ter companhia, ficar sozinho, tudo! Até ajuda profissional pedimos (mesmo com o pediatra dizendo que podíamos esperar até os 5 anos) e a orientação foi: "Cheguem em casa e expliquem que ele cresceu e que fralda é coisa de nenê, que ele não precisa dela para fazer côco". Tudo explicado, colhemos o que temíamos, uma tremenda constipação. Voltamos para a fralda, afinal,  o RoRo tinha deixado a chupeta, o paninho, a mamadeira... Uma hora ia também abandonar a fralda.

Ouvi as mais variadas hipóteses, principalmente que talvez ele não conseguisse se desprender de sua "obra". Sabíamos que esta hipótese era furada, pois todos os cocôs iam da fralda para a privada com um tchau vitorioso. Este não era o problema.

A situação estava ficando insustentável. Nem fralda do seu tamanho era fácil de encontrar... Ele já estava com quase 4 anos!

A segunda tentativa de erradicar este comportamento foi dizer que ele teria que sentar-se na privada, mesmo com fralda. Imaginávamos que esta seria uma forma de se familiarizar com o vaso. Ledo engano.

Foi aí que nos demos conta que toda essa situação era criada para nos manipular: a hora de fazer cocô era a hora do almoço (e a Lalinha dependia de nós, pais, para comer). Pedir para colocarmos sua fralda era um jeito de ter nossa atenção com exclusividade ou de fazer com que a irmã não a tivesse por inteiro.

Tentamos cortar a situação dizendo que eu não iríamos mais colocar a fralda, que se ele não usasse a privada teria que colocá-la sozinho. Rapidinho ele aprendeu a colocar a fralda. O que demoramos para perceber é que não havíamos feito o corte por inteiro. Ele punha a fralda e nós a tirávamos. A dinâmica continuava a mesma, até que um dia dissemos: "Agora é hora do almoço. Quer fazer cocô na fralda, coloque-a e depois que fizer cocô, tire-a. Um de nós vai no banheiro só para te limpar". Foram 2 dias reclamando. No terceiro encarou o trono na maior naturalidade.

O que lhe faltava não era maturidade, nem limite de "senta e faz, você cresceu". Faltava a compreensão de que a fralda estava sendo usada como um instrumento para ganhar, num determinado momento do dia, atenção exclusiva. Ela tinha poder: eu posso, eu faço. Ela era sua "obra".

Acantonamento

No meio do mês passado a escola das crianças fez um acantonamento, uma noite em que as crianças com mais de três anos podem dormir na escola e participar de atividades programadas para a ocasião.

Até o ano passado, mesmo com 3 anos, eu não havia cogitado a ida do RoRo porque ele só dormira sozinho na casa dos meus pais algumas raras vezes e, sempre que questionado se queria dormir na casa de alguém a resposta era não. Achei que seria forçar a barra.

Este ano, ouvindo a confirmação da presença de crianças menores, perguntei-lhe se gostaria de participar do acantonamento. Ele disse que sim, apesar dos pouquissímos amigos de sua sala participarem (e os que participaram estavam acompanhados de irmão mais velho).

A noite chegou e ele estava alegre, feliz, contando para todos que dormiria na escola. Pegamos a mochila arrumada conjuntamente, o colchonete comprado especialmente para a noite, e parti para a aventura de deixá-lo dormir fora de casa pela primeira vez (a casa dos meus pais não conta!).

Confesso que achei tudo diferente. A escola vista à noite, as salas transformadas em quartos, professores e alunos de outro período presentes e do nosso período ausentes, ex-alunos... Era outra escola. Todos brincavam, mas achei o RoRo meio tenso. Vim para casa e resolvi (tentar) dormir  no meu horário habitual. Eu não estava tranquila. O RoRo tinha ficado apreensivo no familiar novo ambiente. Com muito esforço adormeci e um tempo depois o telefone tocou. Eram mais de 11 da noite. Enquanto existiu brincadeira ele curtiu. Na hora de dormir, preferiu voltar para casa.

Mesmo sonolenta, o curto percurso de casa para a escola virou uma longa exibição de flashes do meu pai fazendo baldiação noturna de filhos e amigos dos filhos e do que meu futuro me reserva (pensei "Isso é tarefa para pai, mãe já acorda muito na infância!" - apesar de ser totalmente adepta, hoje, a filho, no futuro, só sair a noite de táxi ou outro transporte seguro). Quando cheguei na escola havia um silêncio inabitual - as crianças já dormiam. No pijama verde de aviões, tive orgulho daquela carinha linda cheia de lágrimas. Torcíamos para a empreitada ser um sucesso. E foi. O RoRo teve a vontade de experimentar e a percepção do seu limite. Foi grande. Voltou para casa certo de que nela ele tem o apoio que precisa, trazendo da sua tão saborosa experiência uma bala da pinhata para cada um de nós.