8 de dezembro de 2011

Mãe não é avestruz

Vergonha pouca é bobagem para mãe de filhos entre dois e quatro anos. Sim, porque o terrível dois não acaba com os três anos, ainda mais quando se tem uma taurina em casa (nunca fui muito atrás de astrologia, mas entendi, na prática, que o taurino é touro porque vem com tudo!).

Minha pequena charmosa recebe elogios rasgados na versão gente, mas na versão touro... sai da frente! Tinha parado de bater e chamar as pessoas de “bobinhas”, que, para mim, aos três anos, é xingamento. Ontem, enquanto o médico prescrevia uma receita e ela queria ir para casa, sem a menor cerimônia, levantou a mão e foi mais rápida que minha defesa. Resultado, tomei um tapa sem dó (detalhe, ela tem castigo, mas não apanha dos pais). Hoje, com chuva, programa básico de fim de ano: ver enfeite de Natal em um shopping center, as três da tarde. A dona de madeixas que inveja loiras de plantão, cansada e com sono (mas não se entrega numa soneca depois do almoço) quis um sorvete na hora do lanche. O irmão e a prima seguiram o protocolo de escolher e pesar, mas a enfurecida taurina queria o sorvete sem pesar. Gritou, levantou a mão e me mandou calar a boca quando tentei – calma, educada, mas frustrada – explicar que não podia tomar o sorvete sem pagar.

Não existia buraco para eu me enfiar. A confeitaria lotada, aquele monte de atendente me olhando como se eu fosse um monstro (nessas horas o monstro é a mãe, que não educa) e minha filha gritando (porque a esta altura já tinha me dado outro tapa – ela sempre é mais veloz do que eu!!!!), chamado a plateia de “feias” e me mandado calar a boca. Nunca a mandei calar a boca e se eu tivesse feito isso há quase quarenta anos atrás eu teria tomado da minha mãe um safanão na boca.

Buraco não tinha. A conta ainda precisava ser paga. Eu tinha mais duas crianças e minha mãe. A vergonha tomara outra dimensão, aquela que anestesia corpo e mente, paralisando qualquer sentimento e ação. Sentei-me, sobrevivi a todos os olhares fuzilantes; ouvi uma palavra amiga da senhora da mesa ao lado: “Tive cinco, deixa, uma hora passa”.

Minha tourinha pediu colo. Abracei-a, seguindo a mesma atitude dos seus momentos de birra por cansaço. Lalinha foi voltando a forma gente. A anestesia foi perdendo seu efeito e comentei com minha mãe que tive vontade de deixa-la gritando em frente ao balcão do sorvete, longe de onde estávamos, mas que eu não podia: “Vá que alguém resolve leva-la”. A neta mais velha não teve dúvida e disse: “Mas quem iria querer levar uma menina birrenta?”. Será que na próxima eu posso fazer o que já fiz muitas vezes de deixar chorar até se acalmar e só aí eu voltar? Ai que vontade!