25 de novembro de 2011

Dente de Leite

Escovo os dentes dos meus filhos todas as noites - minha revisão é sagrada - e eu não havia percebido que um dos incisivos do RoRo estava ficando molinho. Um dia, comendo um tolete de palmito em conserva, o RoRo dá um grito dizendo que o palmito tinha machucado seu dente porque estava muito duro. Achei estranho, cortei o tolete em rodelas. Estava macio, mas a região do dente sangrava. Depois que virei mãe encaro sangue, finjo que sou durona ao ver machucado, mas sou daquelas patifes que fecha os olhos quando vê a agulha de uma injeção.

Um pouco mais aflita do que o RoRo, liguei para a dentista. Como um palmito podia causar tamanho estrago? Nem passou pela minha cabeça que, com 5 anos e meio, o dente de leite pudesse estar mole. Para mim, dente só caía depois dos sete!

E patife que sou, lá fui eu na dentista para me preparar emocionalmente para a queda do primeiro dente do RoRo (muito mais eu do que ele!). O dente mole não era trauma causado pelo palmito mole; era só mais um sinalzinho de crescimento  do meu garoto. Foi um bom momento para tirar todas as nossas dúvidas, dar uma pausa para a ansiedade do novo com sangue!

Exercícios diários para o dente amolecer não foram suficientes para o primeiro dentinho cair naturalmente. O permanente que vinha embaixo rasgou a gengiva apontando feliz da vida atrás do dente que estava com preguiça de amolecer para valer. Resultado, extração na cadeira da dentista. Santa Giselle! Livrei-me do primeiro fio dental amarrado no dente e na maçaneta da porta (até hoje não sei se isso é real ou fantasia, mas que isso acontecia quando eu era criança, acontecia!) ou do lenço de pano, que nem tenho, para com muita força e coragem dar aquele puxão que manchava o lenço branco de vermelho. Pânico de sangue; pânico de anestesia de dentista, que na única vez que meus pais viajaram sozinhos quando éramos crianças, meu irmão teve um problema qualquer no dente e tomou infinitas anestesias que não pegaram. Lembro-me dele chorar e não queria que o RoRo sofresse daquela maneira. Santa Giselle, mais uma vez, que com uma habilidade incrível foi conversando com o RoRo enquanto o anestesiava, que me deixou em dúvida sobre o quanto tudo aquilo era história ou estória. O fato é que nem o RoRo, nem eu, percebemos o dente ser extraído. Logo veio o picolé de uva, o dentinho e o alívio, de ambas as partes (ele também tinha seus temores de como e quando aquele dente ia cair).

Fiquei em dúvida se a Fada do Dente passaria em casa ou não. Com quase 6 anos começo a achar meio sem sentido cultivar as figuras fictícias. Na dúvida, ela não passou. Claro que dois dias depois meu banguelinha queria saber por que a  Fada do Dente não tinha passado em casa. Eu tinha a resposta-desculpa: o dente estava guardado no "Livro Porta Dentinhos de Leite" (presente da Santa Giselle no dia seguinte da história do palmito) e uma vez lá, a fada não teria como pegá-lo. Como tudo, a fadinha foi esquecida...

O dentinho vizinho estava começando a ficar mole. Achei que este lance de cair dente era meio efeito dominó - cai o primeiro, dias depois o segundo, o terceiro e por aí vai. Mas não foi bem assim. O vizinho não amoleceu muito, não apareceu dente rasgando a gengiva atrás, desencanei. E quando isso aconteceu, lá começou o vizinho a  reclamar a cada  mordida em uma comida mais dura, com choro, perguntas e muitos temores que rondaram no capítulo "primeiro dentinho". "E se cair na escola?". A professora guarda, cuida, põe gelinho. E a mãe, pensei, fica livre do segundo! Mas para quê pensar nisto? O debaixo está sossegado no canto dele; o molinho ainda não está pendurado, tem tempo... Antes do Natal não cai. Quem disse?

Fada existe. Ela, quando a gente menos espera, aparece para dizer oi.

Hoje, no meio da correria da criançada em casa (eram cinco crianças), o RoRo vem gritando: "Mamãe, mamãe, mamãe... Meu dente caiu quando eu vesti a camiseta! Eu mordi a camiseta e ele caiu!" Ele estava feliz, radiante com o segundo dentinho na mão, limpíssimo. Olhei a gengiva, mal tinha um ponto vermelho. Mais uma vez escapei! Ufa!

Na hora pensei na Fada daquele dentinho, que hoje faria aniversário e estaria dando risada se estivesse compartilhando a alegria e o entusiasmo da criança que ela mais adorava - não que não adorasse os outros, mas o RoRo era especial para ela, e ela, muito especial para ele. Saudades da tia Tila. Seu último aniversário foi em casa, com as crianças que ela adorava. Meu bolo era capaz de arrancar dente, o pior que já fiz, mas a alegria de estar cercada das crianças foi grande. Foi sua despedida, assim, meio de surpresa, como o dentinho que parece que vai cair mas não cai. Mas quando chega a hora, ninguém segura.

21 de novembro de 2011

Quero ser menino!

A famosa "inveja do pênis" descrita por Freud não é assunto de livro. Há algumas semanas a Lalinha vem dizendo que quer ser menino. Quando questionada sobre o por quê de querer ser menino, nunca deu muita explicação. Um dia a vejo em frente ao vaso sanitário, em pé, tentando fazer xixi como menino. Quando me viu, chorou: "Quero ser menino! Quero fazer xixi em pé!". Como se a potência viesse daí... Mal sabe ela que mesmo fazendo xixi sentada ela já tem uma determinação que muito marmanjo que faz xixi em pé não tem idéia do que é... Enquanto ela descobre sua potência, viva o xixi no ralo!

4 de novembro de 2011

Filho crescido...

Sempre ouvi a frase "Filho crescido, trabalho dobrado". Recentemente ouvi uma que gostei mais: "Filho é igual a game, a fase seguinte é sempre mais difícil!".

2 de novembro de 2011

Como nasce um comerciante

Na escola, o RoRo aprendeu a confeccionar envelope de papel. O gosto pela transformação do sulfite retangular em um quadrado, e deste num envelope, tem consumido boa parte do seu tempo.

Hoje, feriado, saindo para um passeio com a família, ele falou: "Tive uma ideia!". Mais uma entre as inúmeras ideias que tem todos os dias: "Ao invés de pedir moeda para o vovô, a vovó, a tia Bia... para colocar no cofrinho, a gente pode fazer envelope, dar para eles o envelope e eles dão uma moeda. Assim, a gente não precisa mais pedir moeda; eles dão moeda no lugar do envelope".

Dissemos que aquela era uma boa ideia e ele questionou: "Mas onde a gente coloca o envelope?". Indaguei: "Como assim?". E a resposta já estava pronta: "Ah, lá no zero!". Ele percebeu que não podia se restringir apenas aos poucos adultos da família que contribuem com seu cofrinho. Ele precisava de mais gente e sabe que onde tem a maior circulação de pessoas no prédio onde moramos é no zero, o térreo.

Fui tomada pela felicidade de estar junto de mais um momento de descoberta do meu filho. Ele descobria, por si só, a relação produto-destino, compra-venda. Plantamos mais uma sementinha do conceito trabalho-remuneração-poupança.

Rapidamente vieram cenas da minha infância onde, com uma mesinha em frente ao portão de casa, eu tentava vender bala, maçã, sabonete pintado e pulseira feita com fio de telefone. Eu tinha 7-8 anos, me divertia com a brincadeira e não virei comerciante. Talvez meu filho vire, ou apenas se divirta em transformar papéis em envelopes coloridos com seus desenhos e escrito seu nome no remetente de algum destinatário que gosta muito.